Sora Tobi Tamashii. Espíritos Voando no Céu.
Quem
acompanha o blog já sabe que Daisuke Igarashi é um dos meus autores favoritos
tanto é que um bom número de obras suas já foram analisadas por mim, como
Unwelt, Witches e Little Forest. O que me atrai no trabalho dele é a sua
familiaridade em tratar do sobrenatural de uma maneira sutil, fazendo parecer
que é algo natural de nosso cotidiano, assim como ocorre com Miyazaki em seu
extenso trabalho no Estúdio Ghibli, tanto é que Daisuke Igarashi teve Miyazaki
como inspiração.
Sora
Tobi Tamashii que vou analisar agora é uma coleção de estórias curtas de
Daisuke Igarashi, assim como Witches, sem, contudo, possuir uma temática única,
entretanto estão ligadas pela unidade do trabalho do autor em criar um ambiente
místico único e imprevisível, mas belo e sutil.
Sora
Tobi Tamashii foi originalmente publicado na revista “Afternoon” voltada para a
demografia seinen em agosto de 2002. Entretanto tal trabalho foi uma compilação
de estórias publicadas separadamente em outras épocas. Trata-se de uma one-shot,
um único volume composto por 6 capítulos, cada capítulo uma estória diferente
sem ligação com a outra.
A
arte do mangá não deixa a desejar, o traço característico de Daisuke Igarashi,
embora possa assustar os que não estão acostumados, possui uma leveza única,
parecendo por vezes esboços, com alguns personagens pouco detalhados e fora de proporção,
mas isto não depõe a desfavor do autor, muito pelo contrário, casa
perfeitamente com a proposta do trabalho dele.
Entretanto,
essa leveza e simplicidade dos traços criam imagens belíssimas, principalmente
quando o autor se propõe em desenhar uma imagem grande de duas páginas, onde é
possível observar a qualidade de seu desenho. Embora a qualidade de desenho não se compara à Witches por exemplo, onde se percebe um maior esmero do autor.
Tanto
é que são inegavelmente belíssimas suas páginas duplas, e até algumas páginas únicas, visto a riqueza de detalhes quando busca desenhar algum evento sobrenatural, realmente se tratando
de um estilo bem pessoal. A paleta de cores também ajuda a compor um ambiente
harmonioso, o uso das tonalidades certas nos momentos certos, como a
predominância do uso de cores quentes como o vermelho e o marrom na primeira
estória que se passa na montanha que foi totalmente colorida, sendo um
espetáculo à parte. E, assim como nos traços do desenho a pintura também é
sutil e intermitente, parecendo aquarelada.
Bem,
quanto ao conteúdo, resolvi abordar a análise da seguinte maneira, depois
dessas considerações gerais da obra passarei a analisar cada capítulo
separadamente, por se tratar de obras distintas, merecendo que eu comente cada
uma individualmente.
Por
serem estórias de apenas um capítulo, variando de menos de 10 páginas a no
máximo umas 60 fica difícil fazer uma análise detalhada sem apresentar
spoilers. Digo isso por causa da grande polêmica atual em torno do spoiler.
Mas
enfim, não possuo um estilo de post definido, às vezes prefiro escrever pouco,
outras vezes necessito escrever mais, com níveis variados de exposição do
conteúdo. Eu particularmente escrevi muito nesta análise, acho que me empolguei
um pouco! Então me perdoem se acharem a postagem muito extensa, mas não
retirarei nada, não me sentiria bem.
Por
fim, no caso desta postagem, resolvi esmiuçar cada uma das estórias, que embora
pequenas possuem um rico conteúdo, portanto haverá SPOILERS, estando avisados,
irei prosseguir com o trabalho, primeiramente:
A primeira estória chamada “Birthplace”, local
de nascimento em Português, funciona como uma espécie de introdução ao conteúdo
desta coletânea de pequenas estórias, sendo a menor delas por possuir apenas 7
páginas.
Um
dos destaques deste pequeno conto é o fato de ter sido elaborado todo em cores
e a borda das páginas ser decorada com uma curiosa decoração, terra, que vai se
esvanecendo ao subir de cada página, diante da leitura é possível compreender o
motivo disto.
Como
abre-alas Daisuke Igarashi faz questão de passar ao leitor o estilo que tanto o
consagrou, expor o misticismo dos japoneses de forma casual e dinâmica, como
fosse algo típico do cotidiano, lembrando o estilo dos filmes de Miyazaki, uma
mescla da espiritualidade com a natureza e uma boa pitada de surrealismo.
O
presente conto, em resumo, trata-se de uma singela história de retribuição,
onde as forças da natureza retribuem a generosidade da protagonista em ceder
seus bens naturais (madeira, água e terra) a uma espécie de divindade ou
espírito da floresta, ofertando uma singela informação acerca da qualidade da
terra encontrada na montanha, perfeita para cerâmica, além de uma bem humorada
recompensa pessoal.
Semelhante
ao mangá Sumiyaki Monogatari, a estória pode ser interpretada no sentido da harmonia que
deve existir entre a natureza e os seres humanos, sendo que quando o equilíbrio
é estabelecido ambos são beneficiados, o que é mais importante frisar nos dias
atuais visto que o ser-humano, em regra, tornou-se uma criatura bastante
egoísta e que mantém a natureza somente como uma fonte de riquezas que pode ser
utilizada ao seu bel prazer.
Contudo,
como ocorre na vida real, como nos casos de desastres naturais e mudanças
climáticas perigosas, a natureza e “seus espíritos” cobram um alto preço dos
seres humanos quando não são respeitados. Tal vertente vingativa das forças da
natureza poderá ser bem visualizada nas próximas estórias desta coletânea,
fazendo parecer que este primeiro conto é o ponto de calmaria antes de uma
tempestade.
SPIRITS
FLYING IN THE SKY
Sora
no Tobi, Espíritos Voando no Céu em português, é um conto sobre remorso e
outros sentimentos que aprisionam, ou como os piores espíritos vingativos são
aqueles que você trás para si mesmo.
Esta
estória é a que dá nome a esta coletânea de trabalhos de Daisuke Igarashi e
senão uma das melhores da presente compilação.
Abandonando
as paisagens campestres apresentadas na estória anterior, tal obra é ambientada
no Japão moderno em uma cidade cosmopolita, mas, mesmo assim, como sempre digo,
mesmo entre os edifícios de concreto há um espírito ou resquício do folclore
japonês em cada esquina.
Tal
estória se resume num caso atípico da vida de Kurito Maki, uma jovem cozinheira
órfã que por acidente acaba pisando em um filhote de coruja que caiu
provavelmente de uma árvore, matando-o, e que por um ato de consideração com o
bichinho vai enterrá-lo junto com seu pai, que morreu por volta de dois meses
antes. Enquanto a mãe do passarinho procura insistentemente o seu filhote.
Contudo,
pouco tempo depois do ocorrido Maki começa a apresentar alguns sinais estranhos
no seu corpo, penas de coruja começam a crescer na sua cabeça progressivamente,
girando a estória em torno deste evento sobrenatural.
Maki
é uma personagem muito excêntrica, ela possui um bom faro pra culinária, ou
melhor, ela possui uma fome persistente, mesmo nos momentos tristes ela não
perde o apetite, tais como a morte de um ente querido. Outro aspecto mórbido da
personalidade de Maki é que sempre pensou em saborear e descobrir o gosto dos
animais que encontrava mortos, inclusive pairou tal pensamento em sua cabeça ao
segurar a corujinha morta, comparando sua pata a um pé de coelho.
Só
que esses hábitos estranhos não são algo que Maki aceite muito bem, ela sente
um grande remorso quando passa por estas situações, principalmente quando o pai
morreu atropelado e sentiu fome ao invés de tristeza por causa do odor de
comida.
Maki
não poderia resolver isso sozinha, então entra em cena outra personagem de
vital importância, Myiako, alguém que experimenta um destino semelhante ao de
Maki ao ter seu corpo fundido com seu cão que faleceu e procura ajudar Myiako a
fugir de um destino de morte certa visto este estado debilitar o corpo humano.
Myiako
relembra o passado e explana que tal cadela foi sua única companheira depois da
morte de seus pais em um trágico acidente de trânsito, sendo que se apegou
completamente ao cão, e quando este, vindo a falecer, Myiako restou
praticamente sozinha. Contudo, fica claro a grande dependência que Myiako
possuía em relação ao cão que perdurou mesmo após sua morte, não aceitando que
sua companheira a abandonasse desta forma.
Diante
destas informações, é possível ao leitor traçar um paralelo entre as duas
vítimas do destino, ambas ficaram presas em sentimentos negativos, o remorso de
Maki e a dependência afetiva de Myiako. Myiako possui alguns conhecimentos de
feitiçaria úteis pra ajudar Maki a se livrar do espírito que se fundiu a ela,
realizando um ritual de expulsão do espírito possessor.
Mas
é bastante lógico o cão ter se fundido com Myiako, no entanto qual a explicação
da alma da corujinha ter se instalado na cabeça de Maki. Penso que a explicação
mais óbvia neste ponto é de que o remorso por não ter sentido pena pela morte
de seus entes querido se materializou no passarinho, visto ter sentido
semelhante sentimento ao querer provar a coruja.
Contudo,
com o desenlace do ritual, Maki se dá conta de profundas lembranças que
compartilhou com seu pai, quando este disse, no enterro de sua mãe, que você
tem que comer de qualquer forma, não é vergonhoso sentir fome, os vivos têm que
prosseguir com a vida.
Diante
deste contexto de libertação o ritual se mantinha conforme o esperado, contudo,
uma reviravolta se desdobrou, não era apenas a alma da coruja que habitava
Maki, mas também a de seu pai! Sendo necessária sua expulsão conjunta!
No
caso do pai de Maki, este também contribuiu para ficar preso no corpo da filha,
visto que presenciava um forte sentimento de não poder deixar a filha sozinha
no mundo, isto esclarece que as emoções são perigosas antes e depois da morte.
Outros
aspectos do folclore japonês interessantíssimo foram abordados nesta pequena
estória. Como no caso da cachorra de Myiako, que curiosamente não latia. Mas
isto tinha um motivo. Dentro dela habitava um Otodama, espécie de espírito do
som, capaz de conferir ao ser em que vive a capacidade de manipular os
espíritos da morte. Tanto é que sem essa habilidade Myiako não poderia ter
ajudado Maki a se libertar.
Outra
simbologia presente é a da borboleta, mencionado da obra como “avatar da alma”.
Maki, no ritual devia ficar com uma borboleta na boca a fim de tudo proceder
corretamente. A borboleta, tanto nas tradições japonesas, como nas budistas,
gnósticas e até no cristianismo possui uma conotação com a “morte”, sendo um
elemento de transição entre o mundo dos vivos com o mundo dos mortos.
Mesmo
se retirarmos os aspectos folclóricos na narrativa em favor dos menos
supersticiosos, a lição deixada pela estória se aplica ao “nosso mundo” por
assim dizer. É sabido das consequências negativas de manter em si sentimentos
negativos, eles pesam, como se fossem mesmo outras almas presas em você.
O
remorso, o sentimento da dependência, assim como tantas outras emoções negativas
impedem que o ser-humano prossiga com sua vida como se deve, a própria alma se
converte em uma prisão, na qual o juiz que o condenou é ninguém menos que ele
próprio. Tal prisão definha a vida até um estado lastimável, causando males
psicológicos como a depressão entre outros, botando em risco a própria vida,
assim como os espíritos possuídos da estória fizeram.
No
momento que o indivíduo consegue se libertar destes grilhões sua vida poderá
fluir naturalmente. Contudo, sabe-se que isto não é tarefa fácil, lidar com a
morte de alguém, ou com algo que pensamos que fizemos de errado e sofremos com
a culpa pode levar muito tempo, assim como ocorre com a protagonista no anime
Haibanne Renmei que passa por uma árdua tarefa até se livrar completamente da
culpa que o assolava aprendendo a lição que o perdão pelos seus atos deve
partir primeiramente de si mesmo.
Voltando
a questão do folclore, me ocorreu que até mesmo no Brasil, geralmente em
regiões interioranas, há a tradição de se tomar cuidado quando da morte de um
ente querido, visto que lamentar demasiado e chamar por ele pode impedir que
sua alma siga o caminho adequado, ocasionando a sua prisão no plano terreno,
mesmo que de forma imaterial.
E
novamente fazendo um retorno a estória importante mencionar os efeitos
colaterais sofridos por Maki depois do ritual, como uma pena na cabeça que
sempre cresce quando a retira, talvez para relembrar que mesmo se livrando de
sentimos perigosos, algo sempre fica como memória do ocorrido, uma lembrança na
qual podemos conviver e é algo até mesmo positivo.
Outro
dos efeitos colaterais, talvez o mais irreverente, é a capacidade de maki pode
observar pequenos espíritos que ficam brincando ao seu redor. E o gran finale da estória está na mãe
coruja que buscava seu filho, de certa forma a alma de seu pai se fundiu com a
coruja, foi bastante macabro ver a coruja com a face do pai de Maki, talvez
isso seja uma forma de descrever um “encontro de objetivos” entre a mãe coruja
que perdeu o seu filho e o pai que perdeu sua filha, só que de maneira inversa,
visto ser ele que morreu.
THE TEARS OF TAROU, KILLER OF BEAR, STEALER OF GODS
Na
terceira estória da coletânea saímos de uma abordagem contemporânea do Japão
para uma ambientação clássica, regressando ao panorama montanhoso já apresentado
em Birth Place.
Esta
estória com o imponente nome “The Tears of Tarou, Killer of Bear, Stealer of
Gods” que em livre tradução significa “As Lágrimas de Tarou, Matador de Ursos,
Ladrão de Deuses”, poderia facilmente passar como mais um capítulo da mitologia
japonesa, diferente das demais estórias onde mesmo onipresente o fator místico
é bastante sutil, aqui a presença do sobrenatural é avassaladora.
Em
breve síntese, Daisuke Igarashi nos conta a história de um jovem chamado Tarou
que recebeu ao nascer uma dádiva dos deuses (embora seja por vezes sua
maldição), uma força além dos homens comuns, descoberta ao quebrar o pescoço do
urso furioso que matou toda a sua família.
Após
esse evento ele foi adota por uma família de agricultores locais e passou a ser
chamado de “Matador de Ursos” devido ao seu notável feito. Entretanto mesmo a
sua força não impedia de ser constantemente alvo de perseguições das outras
crianças que o achavam estranho. Bem, essas crianças não eram lá muito
espertas, pois quem iria se meter com um moleque com força sobre-humana?
Mas
enfim, Tarou foi desafiado por um valentão e acabou matando ele muito
facilmente, inclusive quem ele matou também se chama Tarou e era filho da
família que ele acolheu. Aparentemente as crianças duvidavam da veracidade de
sua grande força. Contudo acabaram aprendendo da pior forma. Assustado e
confuso Tarou foge para viver na floresta visto que acabara de matar uma pessoa
e temia ser pego por isso e não poderia mais ficar na casa onde matou um membro
da família.
Diante
desta situação estamos diante da grande problemática abordada nesta estória,
pois, mesmo tendo recebido um “presente” dos deuses, sendo que qualquer um
ficaria muito contente ao receber um poder especial, o poder dado pelos deuses
apenas o fazia matar e lhe causar sofrimento.
Inclusive
acabou expulsando-o de sua casa, fazendo-o ter que viver na floresta. Então é
possível refletir que talvez Daisuke Igarashi tentou nesta estória abordar a
linha tênue que separa a benção da maldição, sendo que nada é totalmente bom
nem totalmente ruim neste contexto de privilégios divinos.
Caçando
para viver, Tarou acabou nocauteado por um cervo e caiu num terreno da montanha
sagrada, resgatado inconsciente por alguém misterioso, acordou e se deparou com
uma menina que falou que ambos morreriam se fossem encontrados juntos ali, pois
era uma área sagrada moradia da divindade daquela montanha que zelava pela
segurança do vilarejo abaixo e iria interromper e profanar a “Cerimônia de
purificação”.
Novamente,
a fim de confirmar que o autor tentou manter como tema central na estória o
conflito entre benção e maldição entra em cena a personagem Kumiko, motivadora
do nome da alcunha de “ladrão de deuses” de Tarou.
Agora
entramos em um aspecto recorrente em alguns mangás em que eu já li, como Tokage, o qual eu já resenhei em outra oportunidade, a
questão da oferenda de meninas às divindades das montanhas a fim de aplacar sua
ira e impedir a destruição de seu vilarejo. Em resumo, este é o destino de
Kumiko, ser oferecida como consorte do deus da montanha. A menina vai ser morta
no festival, para se tornar a divindade protetora da montanha.
Em
Tokage, como mencionado acima, a situação é semelhante, um deus de uma montanha
exigia sacrifícios de jovens garotas para saciar sua lascívia e não castigar o
vilarejo. Inclusive em Tokage este é o estopim da imortalidade do protagonista,
que é como no caso de Tarou uma maldição/benção, visto o desejo ardente de poder
morrer e não conseguir.
Embora
deva lembrar que o uso de “sacrifícios para aplacar a ira de deuses” é bastante
recorrente em diversas religiosidades ao longo da história humana, onde eram
exigidos sacrifícios tanto de animais, como plantas, até mesmo de pessoas, como
os sacrifícios de bebês no fogo em honra de Baal na mitologia fenícia.
Claro
que sacrifícios de “sangue” sempre são mais delicados e gera repulsa a nós que
não estamos mais acostumados a presenciar isso. Os Astecas praticavam tal
sacrifício em grande escala, um sacrifício humano seria feito todos os dias
para ajudar o Sol a nascer. Atualmente o sacrifício humano é muito raro mais
pode ser encontrado em algumas seitas obscuras, embora quem realize o
sacrifício esteja cometendo um típico homicídio e deverá receber as sanções
legais cabíveis. Além claro de algumas tribos isoladas em lugares inóspitos na
Terra.
Geralmente
estes sacrifícios tinham como objetivo em tempos de desastres naturais. Secas,
terremotos, erupções vulcânicas, maremotos, etc., seriam sinais de fúria dos
deuses e os sacrifícios eram a forma de acalmá-los. Ou também para mante ruma
proteção divina e impedir um castigo, como no caso da estória aqui abordada.
Mas
voltando à dualidade da benção/maldição vemos que a menina Kumiko receberá a
grande “benção” de se tornar uma deusa ao ser sacrificada, embora tenha que se
morta para isso, o que faz preferir não ser uma deusa claramente. Nesta
floresta há uma seita de monges que podem usar os poderes da floresta para os
seus fins e são eles os responsáveis por “tratar” da oferenda afirmando que ela
ganharia um “corpo que não envelhece”.
Tarou
vislumbrando uma oportunidade de utilizar seus poderes para outra coisa além de
matar tentará salvar a menina, redimindo-se dos seus malfeitos. Claro que
Kumiko fica preocupada em abandonar tudo, pois se não tiver uma deusa a
proteção da floresta termina e ocasiona calamidades e ela não iria querer
carregar o peso dessa destruição na consciência. “Uma morreria em benefício de muitos”. Mas
quanto valeria uma vida? Seria errado ela abandonar tudo com Tarou, não é carga
demais para uma menina carregar em benefício alheio? Estas questões ficam no
ar.
Querendo
ou não os dois tentaram fugir da floresta, mas os monges foram em sua
perseguição. Mas além deles há uma barreira na montanha, até o tempo parou lá
dentro, ninguém entra ninguém sai.
Entre
a perseguição Daisuke aborda outra problemática a questão do passado de Kumiko,
ela como Tarou, não teve uma infância nada fácil, foi abandonada pelos pais e
criada pelos monges, seu desenvolvimento foi lento por isso foi escolhida para
ser deusa. Isso o mesmo que você leu, a menina que apresentasse o
desenvolvimento mais lento seria utilizada como oferenda, talvez uma analogia
com a questão de possuir um corpo que durará por muito tempo, visto que a cada
mil anos ocorre uma troca de deusa.
Neste
ponto ocorre uma das cenas mais fortes desta antologia, para obter a
preservação do corpo as meninas são mumificadas! Não é dito mas é perceptível
pelas marcas de cortes e de costura no corpo de Kumiko. Não é comum a
mumificação no Japão por estes meios, então é uma criação do autor, embora
fosse comum outro tipo de mumificação, a de monges budistas que se enterravam
vivos e preparavam o próprio corpo para que durasse muito tempo,
desidratando-o.
Mesmo
se tratando de uma estória curta de trinta e tantas páginas, ainda o autor nos
brinda com um Plot Twist bastante surpreendente! O fato de que sempre alguém
tenta salvar a deusa que será oferecida! E desta fez foi o Tarou. Tudo estava
de certa forma planejado pelo destino. Enfim neste ponto todos sabem que Kumiko
foi realmente sacrificada e nada pôde ser feito, Tarou mesmo com sua força não
foi capaz de ajuda-la. O destino é inexorável.
Diante
da falha de Tarou sua memória é apagada ao ter sue olho arrancado e colocada
numa marionete serva dos monges. Tarou não se lembrará do que ocorreu e não
contará ao mundo os segredos da montanha, visto ninguém de fora saber realmente
o que acontece lá.
Tarou
de alguma forma espanca a marionete guardiã das memórias e pega seu olho, fica
enfurecido e brada que buscará vingança e matará todos eles... Percebe que só
usará seus poderes para matar, então deixa lentamente seu olho cair na água e
desiste do intento. Uma forma que ele encontrou de por fim ao seu destino de
“apenas utilizar seu poder para matar”. O que foi bastante sensato, visto que
nada mais poderia ser feito para ajudar Kumiko que agora entrara no rol de
deusas da montanha.
Destaque-se
para o curioso final, o qual merece todos os elogios. Um peixe come suas
memórias e começa a sonhar com isso, desde então peixe para de querer dormir.
Cômico e triste de certa forma. Tal estória, como eu disse no começo, é
extremamente intensa e mostra uma vertente mais brutal da espiritualidade. Após
isto, o leitor acalmará o espírito e irá embarcar em uma estória mais
melancólica à beira-mar.
COVERED
IN SAND
Esta
á estória mais “humana” por assim dizer desta antologia, deixamos um pouco de
lado as paisagens montanhosas para apreciarmos a suave brisa do mar.
“Covered
in sand”, coberto de areia em tradução direta é a maior estória deste mangá,
com 66 páginas, narra a estória de uma menina que fugiu de casa de uma maneira
muito peculiar, simplesmente buscando fugir do autoritarismo dos “pais” e da
sociedade que viam, segundo suas próprias palavras, a escola como um “problema
de vida ou morte”. E para tanto, ao invés de desembarcar no ponto habitual,
resolve experimentar ver até onde o trem iria, acabando por levá-la até uma
cidade litorânea.
Na
cidade, mais especificamente na praia, ela encontra por acaso um pintor de
retratos trapalhão (Itou) e sua companheira (Tamako). Tamako possui uma
condição física muito peculiar, o que dá o aspecto sobrenatural da obra, embora
possa ser um problema meramente científico. Ela expele continuamente areia do
corpo, pelos poros, sendo em maior quantidade quando está nervosa.
A menina rapidamente forma amizade com o casal
e eles a hospedam em sua casa até que ela tenha que voltar para casa. Até mesmo
arranja um emprego de meio período durante sua estadia.
Desta
forma, a estória gira em torno da visão da protagonista da situação tendo como
objeto principal a condição física de Tamako e consequentemente sua própria
condição de adolescente rebelde. Tamako sofreu muito na vida, tanto é que sua
mãe faleceu ao dar a luz, visto possuir areia em sue corpo que virou lama no
contato com o sangue, sim isso é muito bizarro, embora seja igualmente trágico.
E para completar a situação, seu pai a abandonou.
Essa
estória é a única da coletânea que não há a certeza da presença ativa do
sobrenatural, visto a condição de Tamako poder estar relacionada à ciência,
tratando-se mais de um conto de ficção científica do que qualquer outra coisa.
Contudo,
assim como ocorre em Unwelt,
obra do mesmo autor que já escrevi sobre, onde a engenharia genética dita os
termos, o processo de desenvolvimento da estória se dá na mesma forma caso se
tratasse de uma estória folclórica, onde o elemento sobrenatural compõe o
ambiente, não sendo o elemento ativo, mas estando onipresente na narrativa,
mantendo sua importância.
Daisuke
Igarashi quando desenvolve uma estória na qual é baseado em algum elemento do
folclore real ou pesquisa científica mantém o cuidado de realizar uma minuciosa
pesquisa sobre os termos abordados, sendo perceptível na forma sútil em que o
autor explica resumidamente os tópicos abordados ou busca explicações para os
problemas existentes, tal como a condição física singular de Tamako.
Seguindo
essa linha, surgindo de uma conversa casual entre os personagens centrais o autor
cita outros exemplos de condições curiosas de pessoas que produzem substâncias
estranhas pelo corpo humano, como uma mulher na Índia que produz algodão dentro
do corpo, ou um rapaz de uma minoria da América do Sul que nasceu com um dente
de ouro natural, ou ainda um homem africano que possuía um enxame de borboletas
na cabeça, pois soltava néctar do corpo. Embora nestes casos eu não saiba se é
uma invenção do autor ou não, pois não achei fontes que confirmem tais casos.
Itou
e Tamako forma um casal especial, mesmo levando uma vida repleta de problemas
eles convivem bem, ambos possuem características “peculiares”, o problema
físico de Tamako e o talento de retratista de Itou que afirma haver “magia” nas
pinturas.
Bem,
a própria vida, segundo autor seria repleta de magia, visto o incontável número
de situações em que dificilmente acreditaríamos que fosse uma mera
coincidência, como o encontro de Tamako e Itou na praia, como a própria disse
no mangá se fosse para a praia cinco minutos antes eles nunca se encontrariam.
Mas
o problema de expelir areia de Tamako é muito problemático e perigoso, caso ela
solte muita areia pode contrair até anemia, tanto é que esse é o motivo compõe
o clímax da estória. Particularmente um desfecho bastante emocionante, quando o
casal, ambos agindo conforme são protagonizam um dos melhores momentos do
mangá.
Itou por ser atrapalhado deixa os desenhos
voarem pela praça e corre para pegá-los sem perceber o carro que vinha em sua
direção e Tamako, diante da tragédia eminente, num ato de entrega, praticamente
doa sua vida para salvar Itou, lançando toda sua areia para amortecer o impacto
da batida. Contudo, ela praticamente “secou” e, embora continuasse viva,
tornou-se praticamente inválida, bem como perdeu sua beleza.
Outra
“prova” do amor do casal é demonstrada a seguir, Itou não abandona Tamako e
fica ao seu lado enquanto se recupera muito lentamente. Até mesmo abandonou o
trabalho de artista para laborar braçalmente. Mas não nos esquecemos da menina
que serve como observadora da estória, sua vida continua, quando percebe a
situação de Tamako se oferece para trabalhar para ajudar nas despesas. Itou,
enganando ela avisa um conhecido para que a denunciasse como uma garota
fugitiva. Após decorrido um tempo ela visita o casal e se depara com a lenta
recuperação de Tamako.
Um
ponto bastante relevante que possa se chamar de sobrenatural seria a questão da
magia da “pintura”. Itou comentou que estava pintando um retrato de Tamako, mas
não poderia mostrar antes de finalizar, pois a magia se perderia.
Por
coincidência a protagonista descobre e espia o quadro e a magia teria se
“dissipado”. Logo depois acontece o acidente trágico, onde podemos fazer uma
analogia na qual a areia (que seria a “magia” de Tamako) se perdeu para salvar
Itou.
Pra
finalizar, outra questão interessante é que como hobby na escola nossa
protagonista passou a trabalhar com artesanato em vidro, até mesmo Itou se
surpreendeu com isso. A ligação mais óbvia seria por causa da “areia” visto o
vidro ser composto por ela e como uma espécie de homenagem ao casal de amigos
que a acolheu resolveu trabalhar em algo no qual a areia é modelada para
produzir arte, assim como a união do casal, o artista e mulher que “solta”
areia ambos são frágeis mas interessantes..
Boa
história, num ritmo mais lento que as demais, perfeita para contrastar com a
ação da anterior, conseguindo causar uma boa impressão no leitor que calmamente
se deixa levar pelo enredo da estória, que embora curta é muito rica.
LE
PAIN ET LE CHAT
Nesta
estória ambientada aparentemente numa grande cidade nos é contada a estória de
dois personagens, uma menina “delinquente” que vive sozinha e rouba, furta e
extorque para viver, até mesmo usa uma faca em seus delitos, e um padeiro que
possui uma respeitável padaria, mas que questiona a si mesmo se fazer pães é o
que ele queria para sua vida.
A
saga de ambos se cruzam quando a menina tenta furtar pães da padaria do
protagonista e acaba sendo pega em flagrante, o padeiro a persegue e a segura,
ela insistiu que ele não chamasse a polícia e ele resolve ajudá-la levando pães
para ela dando origem a uma curiosa relação.
Ocorre
que os pais da menina abandonaram a menina da casa em que moravam, a deixando
sozinha, sendo que vivia de roubar e furtar para se alimentar e manter o
imóvel, pois sabia que caso a polícia tomasse ciência do ocorrido ela não
poderia continuar na casa enquanto esperava numa cega esperança o retorno de
seus pais.
Mas,
o que movimenta a estória é outro personagem, um pequeno personagem, um gatinho
cego de um olho que a menina cuida como se nada mais importasse. Daí o título
da estória, Le Pain et le Chat significa o pão e o gato em francês, em clara
alusão aos personagens da trama.
Entretanto,
ao ver sérios ferimentos na mão da menina e o fato dela passar mal com uma alta
febre, ao leva-la no médico acaba descobrindo que ela possuía uma série alergia
a gatos. Sendo a única solução o afastamento de ambos.
Contudo,
o afastamento não é uma opção para a menina, ao ser abandonada pelos pais e ter
encontrado o pequeno gatinho ela transferiu todo o seu senso de
responsabilidade aos cuidados do bichano em virtude da atitude totalmente
oposta dos seus pais, e, ao repudiar tal ação nunca poderia fazer o mesmo com
seu novo amigo.
Percebe-se
que cada uma das estórias desta coletânea gira em situação nas quais são
apresentados dilemas morais, neste caso é o dever de responsabilidade que dita
as regras. Tal como a situação do padeiro, que diante das responsabilidades com
fornecedores, impostas e etc., mesmo querendo não consegue abandonar o ofício
de padeiro.
Diante
deste dilema em atender o desejo da menina ou simplesmente afastá-la do gato ou
chamar as autoridades ele resolve contornar a situação oferecendo um par de
luvas e uma máscara de gás para a menina manusear o pequeno mascote sem ter que
tocá-lo, visto ter contraído mais uma responsabilidade em relação à menina.
E
vocês devem estar se perguntando, há algo de sobrenatural nesta estória? Bem,
não necessariamente, depende do ponto de vista, pode ser uma representação
alegórica, um sonho ou realmente algo mágico.
O
padeiro literalmente “entrou” nos olhos da garota e se viu diante de suas
memórias, um monstro em forma de caranguejo que bradava: “Você é uma criança
barulhenta!”, provavelmente se trata de uma alegoria com os pais que a
abandonaram e provavelmente a tratavam mal.
De
um momento para outro ele se transporta para os próprios sonhos e começa a
devagar sobre como fazer um bom pão. Boa parte da insatisfação do protagonista
sobre a profissão de padeiro que escolheu para exercer diz respeito ao fato de
nunca ter conseguido fazer um pão maravilhosamente saboroso que comeu em um
workshop de panificação. Resumidamente, ele queria fazer um pão que tocasse o
seu coração, e o fracasso era mortificante.
Por fim,
dentro desta dimensão onírica, ele retoma a atenção em relação à menina viu ela
se afastando e se despedindo e então acaba acordando em sua padaria. Seria
sonho, alucinação ou seria uma alegoria do que descobriu ao conviver com a
garota? Impossível saber ao certo. Mas, querendo tirar a prova e vai até a casa
da menina e se depara com os assistentes sociais e acaba sendo informado que a
garota realmente fugiu.
Ambos
não voltam a se encontrar, mas, de alguma forma tal relacionamento serviu para
o nosso padeiro querer renovar sua produção de pães desde o primeiro passo,
buscando aquela paixão que não encontrava na panificação. Mas o que motivou
essa retomada de seu desejo?
Talvez
a devoção da garota em não abandonar o pobre gatinho mesmo enfrentando difíceis
provações tenha exercido uma influência profunda na mentalidade do padeiro,
sendo esse sentimento o que faltava para produzir um pão que atendesse suas
expectativas, visto que sua técnica já era perfeita e apenas faltava “paixão”
pela coisa. Por acaso não dizem que os sentimentos afetam o sabor dos
alimentos?
E
quanto a garota? Apenas seguiu seu rumo com seu gatinho, dando a sensação de
continuidade. O que dá pra perceber é que naturalmente ela não abandonou seu
objetivo em proteger e ficar com o gato. O destaque no final fica para o fato
dela estar atravessando a cidade com uma máscara de gás, o que, a princípio
possa parecer cômica acaba por lhe salvar a vida!
E
termina magistralmente com um close no olho cego do gato que toma forma de uma
lua. Ah, já ia esquecendo um dos momentos mais bizarros, eu nem ia comentar
sobre isso, mas, foi aprender que se deve estimular a bunda do gato pra ele
defecar.
Para
finalizar, retornamos ao ambiente de montanha, onde dela se propaga todo o
repertório místico desta pequena estória, que por sinal foi uma das primeiras
produzidas pelo Daisuke Igarashi, nunca publicada antes.
Still
Winter, mais que um simples conto, é uma alegoria da transição das estações,
onde a morte representada pelo inverno produz as sementes necessárias para
fazer florescer uma exuberante primavera. Nesta estória o autor se baseou no
folclore japonês de uma maneira um tanto terrificante para criar esta alegoria.
Em
resumo é a estória de um menino que nutria um grande interesse por uma montanha
e que na sua infância perguntou se podia escalá-la, mas este respondeu que ela
pertencia a Deus e nenhum mortal deveria subir nela. Novamente vemos a
motivação de uma “divindade da montanha” que pune terrivelmente os invasores,
talvez uma alegoria com os próprios perigos da montanha, como deslizamentos,
quedas, etc. Que conferem um ar terrível e perigoso à esta formação do relevo.
Além de que quanto mais alto, mas perto estaria da “morada” dos deuses.
Contudo,
o menino cresceu e resolveu escalar a montanha. Aqui temos mais uma alegoria do
que qualquer outra coisa, ele provavelmente não obteve sucesso em seu intento
como alpinista e acabou sofrendo na neve gelada e passou a alucinar. Começou a
observar uma grande variedade de animais míticos e soube por eles que sua vida
seria levada pelo “Rei do Inverno” o “que devora tudo”, provavelmente uma
alegoria de que o inverno na montanha tiraria sua vida.
Contudo,
o mais curioso é que sua essência permaneceria viva sendo consumida por Saohime
(deusa da primavera), contrastando com o inverno (figura masculina severa) é
uma bela mulher, rodeada de espíritos que são seus servos. No que consistiria
pegar a essência do protagonista? Essa
essência seria absorvida por meio do sexo.
O
sexo é a representação da reprodução e renascimento da primavera, detalhe para
a cena de sexo entre os personagens, originalmente o autor tinha desenhado os
órgãos sexuais como de humanos normais, mas foi “censurado” por causa disso e
criou uma representação de como ambos os corpos estariam ligados por folhas,
raízes e vinhas, o que, em minha opinião combina melhor com o contexto.
Aqui
temos mais uma vertente da metáfora da transição do inverno para a primavera,
para a primavera surgir com o crescimento das vegetações se faz necessária a
reprodução das plantas que restaram a fim de se espalharem pelo ambiente e
estas plantas necessitam de “adubo”, matéria orgânica nutritiva para crescerem
bem, e digamos, um corpo humano poderia fornecer um pouco dessa energia para a
vegetação.
Outra
metáfora interessante, bem, não seria outra metáfora, mas a continuação da
mesma, de transição do inverno para a primavera. Cada vez que Saohime pega uma
essência ela deixa um ovo dentro do rei do inverno que quando eclodem, as
crianças da primavera devoram o rei do inverno.
Difícil
escolher qual a melhor estória da coletânea, mas devo dizer que esta pequena
estória me marcou positivamente, a vivacidade da grande alegoria que o Daisuke
Igarashi criou demonstra uma grande capacidade em reinterpretar de sua maneira
os acontecimentos naturais de uma forma “mística” adequada aos arquétipos
folclóricos japoneses.
BÔNUS
Ao
final do mangá Daisuke Igarashi apresenta algo muito curiosa, uma página dupla
na qual ele expõe comentários das obras apresentadas nesta coletânea analisadas
do ponto de vista dos alimentos! As estórias do ponto de vista das comidas.Embora
se esperasse em seus comentários que falaria algo “sobrenatural” trata do ponto
de vista da comida, mas afinal, a comida tem importância cultural e mística,
sendo um dos pilares de uma civilização. Também, com isso, é possível ver o
interesse do autor pela culinária, o que já pôde ser visto em Little Forest.
Enfim,
chegando ao final de minha análise, devo declarar que a presente obra é mais
que recomendada, indicada a todos àqueles que apreciam obras diferentes do habitual e que abordam o
sobrenatural de forma não convencional. E por ser um mangá curto não se levará
muito tempo para lê-lo, sendo uma boa pedida para quando você estiver estressado
e precisar de algo interessante para ler e relaxar. Até a próxima pessoal.